Desvios Posturais de Crianças e Adolescentes
A coluna vertebral passa por transformações na sua estrutura ao longo do crescimento. Ao nascer a coluna apresenta apenas uma curvatura anterior, uma grande cifose que se estende do pescoço até a bacia, semelhante a um arco.
Quando a criança começa a firmar a cabeça (ao redor dos 3-4 meses) a curvatura do pescoço começa a adquirir o sentido inverso, curvando-se para trás e formando a lordose cervical. Ao começar a andar e ficar em pé, a curvatura da lombar inicia o mesmo processo de inversão, formando a lordose lombar, que se consolida ao redor dos 2-3 anos.
Os ossos da coluna, as vértebras, são formados na infância e adolescência, assim a coluna está mais suscetível a traumas e acidentes nessa idade, e a sua formação depende diretamente da ingestão de cálcio, da formação de vitamina D pela exposição ao sol e da realização de atividade física para ter um bom desenvolvimento.
A coluna tem a função de equilibrar o nosso corpo, considerada como uma “viga de sustentação”, em constante movimento e balanço. O peso que carregamos (como sacolas, mochilas e o nosso próprio peso) comprime e inclina a coluna para os lados, sendo necessária a musculatura para reequilibrar e “alinhar” o formato dela.
Defeitos na formação óssea e no equilíbrio muscular, bem como o excesso de peso entre outras causas, podem levar ao desvio postural e ao desenvolvimento inadequado da coluna, sendo necessário um tratamento multidisciplinar para evitar que esse desvio se estabeleça e fique permanente. Os desvios mais comuns são:
Escoliose:
É o desvio lateral da coluna, que associado a rotação das vertebras pode levar aos sintomas mais comuns de: diferença da altura dos ombros, diferença na cintura com um lado mais “fundo” do que o outro, inclinação da bacia, “aumento” das escápulas com um aparente abaulamento nas costas, geralmente levando a pouca dor e desconforto estético. Pode ser causada por uma série de fatores como causas genéticas, diferença do comprimento das pernas, uso de mochilas inadequadas, sedentarismo e obesidade. Começa a dar os primeiros sintomas ao redor dos 4-6 anos, ou mais frequente aos 10-14 anos, coincidindo com o estirão do crescimento.
Hipercifose:
É o desvio “para frente” da coluna, ficando o paciente com o aspecto de “cansado” ou “relaxado”, com os ombros curvados para frente, encurtamento do peitoral e musculatura posterior das pernas e alongamento do dorso. Esse desvio geralmente é associado a postura inadequada na carteira da escola, mesa de estudos, celulares, computadores e jogos de videogame, bem como ao uso de mochilas muito pesadas, obesidade e sedentarismo. Sua presença é mais notada na adolescência, próximo aos 12 anos, no estirão do crescimento, e pode cursar com dores nas costas, entre os ombros e cervical, associadas a períodos em que a criança fique muito em pé, ou carregue peso.
Hiperlordose:
Mulheres costumam ter uma lordose lombar aumentada, isso se deve a própria característica do corpo feminino, e nem sempre essa lordose será uma doença. Entretanto, quando o aumento da curvatura da lombar é exagerado (geralmente compensando a hipercifose, ou associada à fraqueza muscular das pernas e quadril, sedentarismo e obesidade) têm-se o quadro de hiperlordose, que cursa com dores na lombar devido à sobrecarga das articulações facetárias e a distribuição incorreta do peso na coluna. É mais frequente em mulheres no final da adolescência.
Espondilolistese:
Trata-se de uma doença da coluna que devido a uma má-formação dos ossos, ou a traumas de repetição em hiperextensão da lombar (presente em atletas de esportes como futebol, tênis, lutas, ginástica artística ou olímpica), causam o “escorregamento” das vértebras e o seu deslocamento. As vértebras escorregadas levam ao estiramento do nervo ciático, causando dores na lombar e irradiada para as pernas, geralmente associadas a atividades físicas ou períodos em pé, com melhora no repouso. Costumam dar os primeiros sintomas ao redor dos 10-14 anos de idade.
Tratamentos:
Existem diversos métodos de tratamento para os desvios citados acima: atividades físicas, fisioterapia, pilates, RPG e coletes. O diagnóstico precoce do desvio é importante, para que o tratamento seja mais eficaz e o menos agressivo possível, já que essas doenças quando diagnosticadas tardiamente podem levar à necessidade de correções cirúrgicas. A prevenção é outro ponto fundamental, com estímulo à atividade física controlada, alimentação saudável, bom controle do peso corporal e cuidados posturais ao sentar, escrever, usar computadores e no uso de mochilas pesadas (peso máximo ideal de 5-10 % do peso da criança, usando sempre as duas alças da mochila).