Tratamento de Instabilidade do Ombro:
Estratégias Cirúrgicas para Diferentes Tipos de Instabilidade
A instabilidade do ombro é uma condição em que os ossos da articulação se desviam de sua posição normal, resultando em deformidade, dor, fraqueza e disfunção. Este problema pode ocorrer devido a lesões traumáticas, por hipermobilidade ou por uma mistura desses fatores, ocasionado danos aos tecidos ao redor da articulação. O tratamento depende do tipo de instabilidade e o cirúrgico é frequentemente necessário para restaurar a estabilidade e a funcionalidade do ombro quando se tem uma alteração da anatomia. As estratégias de tratamento dependem de alguns fatores e a cirurgia é indicada de acordo com o tipo e a gravidade da instabilidade.
1. Instabilidade Anterior e Posterior sem lesões ósseas: A instabilidade anterior é a forma mais comum e ocorre quando a cabeça do úmero se desloca para a frente da articulação do ombro e a posterior ocorre quando a cabeça do úmero se desloca para trás da articulação do ombro, embora seja menos comum do que a anterior. A abordagem cirúrgica mais comum para este tipo é a reparo labral anterior e/ ou posterior, podendo ser associado à capsuloplastia. A cirurgia pode envolver a reparação do lábio glenoidal, que é uma estrutura cartilaginosa que ajuda a manter a cabeça do úmero no seu lugar. Durante o procedimento, o cirurgião fixa o lábio à glenoide (cavidade do ombro) usando âncoras de sutura não metálicas. Além disso, a capsuloplastia pode ser realizada para ajustar e reforçar a cápsula articular, aumentando a estabilidade da articulação.
2. Instabilidade Multidirecional: A instabilidade multidirecional é quando o ombro é instável em várias direções (anterior, posterior e inferior). O tratamento na maioria das vezes não é cirúrgico, mas podem haver situações que este tratamento falha e então é indicada a cirurgia, que envolve o fechamento do intervalo anterior (diminuição do espaço entre os tendões do manguito rotador) e técnicas como a capsulorrafia total para restaurar a estabilidade em todas as direções. O cirurgião pode realizar uma abordagem artroscópica, utilizando pequenos instrumentos e uma câmera para visualizar e tratar a articulação com mínima invasão.
3. Cirurgia de estabilidade dinâmica (DAS): Nesta técnica utiliza-se o cabo longo do bíceps (que é uma estrutura que atravessa a articulação do ombro), retirando-o de sua origem nativa na parte superior da glenóide e levando-o para uma posição anterior à glenóide de forma a reforçar a capsula anterior num mecanismo de tensionamento dinâmico, de acordo com a posição do ombro, funcionando como uma barreira para o deslizamento anterior da cabeça umeral. Sua indicação principal é quando o lábio glenoidal está ausente ou fragilizado e não ainda não há uma perda óssea significativa.
4. Cirurgias de bloqueio ósseo: Quando a instabilidade envolve perdas ósseas na glenóide e/ou na cabeça umeral, a chance de falha com o reparo apenas de partes moles é maior, sendo indicado o uso de enxerto ósseo para restaurar as relações anatômicas e a função do ombro. O enxerto normalmente utilizado é do próprio ombro, processo coracoide com o tendão conjunto, chamada cirurgia de Latarjet, ou enxerto de ilíaco (Eden -Hybinette). Apesar de serem cirurgias mais agressivas, são reparos mais robustos que permitem uma retomada das atividades cotidianas de forma mais segura para esses pacientes com lesões mais graves.
5. Abordagens Artroscópicas e Abertas: A escolha entre uma abordagem artroscópica (minimamente invasiva) e uma abordagem aberta (cirurgia tradicional) depende da gravidade e da complexidade da instabilidade e da experiência do cirurgião com o método. A cirurgia artroscópica é preferida para a maioria dos casos devido a menor agressividade aos tecidos a redor da articulação e de menores risco de complicações. No entanto, em casos mais complexos, uma cirurgia aberta pode ser necessária para uma abordagem mais direta.
6. Reabilitação Pós-Cirúrgica: Após a cirurgia, a reabilitação é fundamental para recuperar a função completa do ombro e prevenir futuras instabilidades. O programa de reabilitação geralmente inclui exercícios de fortalecimento, alongamento e técnicas de fisioterapia para restaurar a amplitude de movimento e fortalecer os músculos ao redor do ombro. O acompanhamento contínuo com o cirurgião e o fisioterapeuta é crucial para monitorar a recuperação e ajustar o plano de tratamento conforme necessário.