Radiofrequência: uma nova alternativa às próteses?
A artrose é uma condição degenerativa das articulações que acompanha a dor crônica, podendo levar a uma perda da qualidade de vida. Artrose, ou osteoartrose, é definida pelo desgaste da cartilagem articular, muito comum em articulações como joelho, quadril, ombro e coluna. Embora as próteses sejam um tratamento bem estabelecido em estágios mais avançados da doença, nem todos os pacientes são candidatos a esse procedimento, seja pela idade avançada, ou por problemas de saúde que aumentam o risco da cirurgia. Em outros casos, apesar da dor limitante, a doença se encontra em estágio inicial, não havendo ainda indicação para colocação da prótese. E tem aqueles pacientes que simplesmente não querem fazer a cirurgia. O que fazer nesses casos?
Sendo ela a principal queixa dos pacientes, a dor crônica difere da dor regular.
Normalmente, o sinal de dor cessa quando a causa é resolvida (por exemplo, seu corpo repara a ferida no dedo ou no músculo rompido). Mas com dor crônica, os sinais nervosos continuam disparando mesmo após a cura. O corpo continua sofrendo por semanas, meses ou até anos após o início da lesão. Geralmente, definimos dor crônica como qualquer dor que dura de 3 a 6 meses ou mais. A dor crônica pode ter efeitos reais no seu dia-a-dia e principalmente na sua saúde mental. Há um número limitado de opções de tratamento disponíveis para esses casos, em que a fisioterapia e o uso de medicações já são ineficazes. As infiltrações com corticóide proporcionam alívio significativo da dor a curto prazo, mas são necessárias várias aplicações para gerar resultado, o que por sua vez aumenta o risco de eventos indesejados, como hiperglicemia, hipertensão e o risco de infecção. A viscossuplementação (infiltração em que é aplicado um gel lubrificante intraarticular) mostra uma eficácia moderada, trazendo um alívio dos sintomas temporário, podendo durar apenas alguns meses nos casos de artrose avançada.
A ablação por radiofrequência resfriada (ARFR) surge atualmente como uma boa opção para esses casos. Trata-se de um procedimento médico no qual são inseridos alguns eletrodos em pontos específicos das articulações onde o paciente tem dor. A ponta desses eletrodos encosta nos nervos sensitivos (responsáveis pela sensação da dor), e dispara uma frequência, na faixa de 350 a 500 kHz, gerando calor ao seu redor. O nervo é então ablado, destruindo sua capacidade de transmitir sinais para o cérebro, e bloqueando a sua função.
Pelo fato dos alvos serem apenas os nervos sensitivos, a função motora (como a contração muscular) não é afetada. Também chamada de denervação ou rizotomia, a ARFR é um procedimento seguro, com mínimos riscos e uma alta taxa de sucesso, quando bem indicada.
O primeiro uso conhecido da ablação por radiofrequência foi em 1931, para o tratamento de uma neuralgia do trigêmeo. Mas foi apenas na década de 90 que seu uso foi difundido, principalmente no tratamento de alguns tumores ósseos, e de patologias da coluna vertebral. Os dispositivos de radiofrequência convencional e/ou térmica disponíveis no mercado vem sendo, desde então, aperfeiçoados com a melhora tecnológica e os avanços nas pesquisas. Até que em abril de 2017, a FDA (Food and Drug Administration) dos EUA aprovou o uso comercial da ablação por radiofrequência resfriada, com maior precisão, efeitos mais duradouros, e menor risco. Atualmente, esse é o aparelho mais avançado, e encontra-se disponível para o uso aqui no Brasil.
Após publicações científicas mostrarem que a ARFR funciona para o alívio das condições dolorosas da coluna vertebral, recentemente, surge como uma boa opção minimamente invasiva para controle da dor em pacientes com artrose do joelho e do ombro.
Apesar da evidente melhora clínica, ainda faltam estudos na literatura comprovando a melhora nos casos de ombro. Com artroses de joelho, por sua vez, temos encontrado cada vez mais publicações demonstrando seus benefícios clínicos. Em um trabalho recente, publicado em 2019 na revista Pain Practice por um grupo de médicos de Nova Iorque, o uso da ARFR proporcionou um alívio da dor, melhora da função e melhora da propriocepção em até 24 meses, nos pacientes com dor crônica no joelho decorrente da osteoartrose.
O procedimento é realizado no centro cirúrgico, com a assepsia devida, durando em torno de 30 minutos. Por se tratar de um procedimento minimamente invasivo, a anestesia local é suficiente para realizá-lo. As vantagens em relação às próteses são muitas, como o baixo risco de complicações; a ausência de uma incisão cirúrgica; e a rápida recuperação, com alívio quase imediato do quadro doloroso.
Vale lembrar que essa não é a cura da artrose. Isso ainda não é possível com a medicina de que dispomos hoje, em 2020. O objetivo principal da ARFR é eliminar a dor.
Outros sintomas causados pelas artroses avançadas, como as deformidades, a rigidez articular, entre outros, devem permanecer mesmo após o tratamento. Há casos, portanto, em que as próteses ainda são indicadas como a melhor solução. Para saber se, no seu caso, você tem indicação, e será beneficiado com o uso dessa técnica, consulte seu ortopedista.