O que muda na Saúde Gastroesofágica da Mulher?
Muito além da imagem externa e as diferenças que vemos entre mulheres e homens, é no nosso interior que as coisas nos surpreendem mais. Somos distintos na maneira de pensar, no jeito de ver e sentir o mundo. Temos múltiplos anseios e expectativas e até a percepção do ambiente que nos cerca é diferente. E no nosso organismo, o que muda?
Apesar de já serem conhecidas as diferenças na motilidade do trato gastrointestinal, muitos profissionais lidam de forma genérica, não se atentando as particularidades que seriam a chave para um diagnóstico mais acurado e um melhor manejo.
A resposta para essas alterações está na compreensão do efeito dos hormônios no corpo feminino, o estrógeno e a progesterona, de acordo com cada fase de vida. Há diversos mecanismos que contam com a ação desses hormônios, com seus receptores presentes por todo o trato gastrointestinal, influenciando sua motilidade.
Em relação à doença do refluxo gastroesofágico, a prevalência é semelhante entre mulheres não grávidas e homens. Já as complicações do refluxo, como esofagites erosivas, úlceras e esôfago de barrett, são mais comuns nos homens, que possuem uma produção de ácido aumentada, além do provável papel do estrogênio em atenuar o dano ao esôfago feminino.
Durante a gravidez, até 85% das mulheres referem queimação, numa incidência que aumenta conforme a idade gestacional avança, com grande melhora e até resolução espontânea após o parto. Com a progressão da gestação, há um aumento da pressão dentro do estômago pela compressão do útero; junto a isso, a elevação do estrogênio e progesterona diminuem a pressão do esfíncter esofagiano inferior e também o peristaltismo do corpo.
Já na menopausa, apesar da queda hormonal, as maiores taxas de refluxo podem ser explicadas pela associação de vários outros fatores, tais como ganho de peso, distribuição de gordura corporal abdominal, presença de comorbidades, uso de álcool e tabagismo.
Em relação ao estômago, as mulheres relatam muito mais queixa de saciedade precoce, náusea, empachamento pós prandial e distensão abdominal. Como justificativa está um maior tempo de esvaziamento gástrico, contração antral diminuída e maior sensibilidade à dor, quando comparado com homens. Ainda, estudos mostram que esses sintomas tendem a piorar na fase lútea do ciclo menstrual.
Há muito que se estudar a respeito dessas condições. Nosso corpo tem particularidades. Cada ser humano é único, e que bom por isso! Conhecer as possíveis alterações nas funções digestivas femininas nas diversas fases da vida, pode não garantir alívio de todos os sintomas, mas é uma forma de guiar o paciente a reconhecer seu próprio corpo, suas variações, e definir a melhor estratégia de tratamento.