O que fazer diante de quem Quer ou Tentou se Matar?
Todo mês de setembro é feita a campanha de conscientização e prevenção do suicídio: o setembro amarelo. Por mais que esta seja uma ocasião adequada para as discussões sobre suicídio, não devemos restringir a atenção a este tema apenas ao mês de setembro.
Pouco adianta dedicarmos um mês a esse tema se a saúde mental das pessoas for negligenciada nos outros onze meses do ano. Mediante a situação extrema que é se deparar com alguém que deseja, ou tentou retirar a própria vida, venho apresentar algumas linhas gerais, duradouras, tanto para profissionais de saúde quanto para a população como um todo, sobre como lidar com tal situação.
Primeiramente: uma pessoa com desejos ou ações suicidas está passando por uma emergência médica, por uma situação de potencial morte, por uma oportunidade muitas vezes única de salvamento de uma vida. Diversas metanálises tem mostrado que um percentual altíssimo de pessoas com desejos ou ações suicidas manifesta-os mediante presença de um transtorno psiquiátrico, seja ele depressão, bipolaridade, ansiedade, psicose, entre outros. A maioria dos estudos indica um percentual entre 87 e 90% dos pacientes! Por conta de tal frequência, essas pessoas devem ser SEMPRE encaminhadas para uma avaliação psiquiátrica em serviço de emergência. Infelizmente são comuns as situações de pacientes que tentam suicídio, são encaminhados a hospitais gerais, salvos em um primeiro momento, mas não são encaminhados para avaliação e tratamento psiquiátrico imediato subsequente e acabam por consumar o suicídio em um segundo momento.
Mediante uma pessoa que quer se matar um dos maiores mitos existentes (e que deve ser quebrado), é o de que perguntar sobre seus pensamentos suicidas deve ser evitado. Deve-se sim perguntar diretamente: isso fornece à pessoa uma grande oportunidade de ter uma válvula de escape verbal para a imensa angústia que traz o suicídio como “alternativa” para o fim do sofrimento. Outro grande mito a ser quebrado é de que “cão que late não morde”. Pessoas que falam frequentemente sobre a vontade de se matar muitas vezes o fazem como vazão de angústia, como pedido de ajuda, como alerta. A maioria dos suicidas, além de falar disso, dá pistas diretas sobre suas intenções antes de perder totalmente as esperanças e se matar (como cumprimento súbito de tarefas e cartas de despedida). Porém é necessária atenção àqueles que já demonstraram vontade de se matar com muita angústia e que de repente tornam-se serenos: isso pode significar que a pessoa escolheu finalmente morrer.
A maioria dos potenciais suicidas está em uma encruzilhada entre a vontade de viver e o desejo pela morte. Por isso é tão importante fornecer apoio emocional para que a dúvida entre a vontade de viver e o desejo de morrer seja resolvida pela vida. Pessoas com personalidade muito rígida e incapazes de encontrar saídas para suas situações, bem como os muito impulsivos e que tem dificuldades em se controlar em momentos difíceis merecem maior atenção. Outros sob maior risco são pessoas com histórico familiar de suicídio, dependência química ou problemas psiquiátricos, doentes crônicos mentais ou físicos, indivíduos solitários, vítimas de qualquer forma de abuso, desempregados ou aposentados e integrantes de minorias.
Todas as tentativas de suicídio devem ser levadas a sério, mesmo as aparentemente pouco graves ou feitas por manipulação ou chantagem emocional, por serem sempre sinais de adoecimento ou sofrimento mental grave. Especialmente em crianças e jovens a intenção deve ser levada em conta, ainda que o meio utilizado na tentativa de suicídio pareça inofensivo. Mesmo que ainda pareça a muitos uma medida drástica, uma internação psiquiátrica é salvadora, em particular para aqueles em risco iminente de suicídio, que saíram de uma tentativa recente, que tem desejo de se matar com plano já estabelecido e meios disponíveis para fazê-lo, bem como aqueles sem bom ambiente familiar ou social. A internação pode dar a segurança, o acolhimento e o tratamento de saúde mental que não estiveram disponíveis até então.
Setembro amarelo é todo mês: sempre se deve dar apoio emocional para potenciais suicidas para que encontrem maneiras de permanecerem em vida conosco, sempre se deve ajudar o indivíduo que quer a morte a se decidir pela vida, sempre se deve ficar próximo a essas pessoas e sempre se deve encaminhá-las para auxílio psiquiátrico. Essas medidas podem ser a diferença entre a salvação e a tragédia.