O Respirador Bucal na Clínica Fonoaudiológica
“Interferir, o mais precocemente possível, neste processo, é a melhor maneira de tratar esta patologia¨
Respirar de forma predominantemente bucal é um desconforto, comprovadamente importante, além de ocasionar alterações orgânico-funcionais. Vários profissionais da área da saúde deverão estar envolvidos no diagnóstico e no tratamento como o otorrinolaringologista, o fisioterapeuta, o fonoaudiólogo e, algumas vezes, quando os acometimentos respiratórios alterarem também o aspecto emocional e a aprendizagem, o psicólogo e os profissionais da educação.
A respiração bucal é vista, então, como uma síndrome que requer atenção de todos os especialistas que entram em contato com o sujeito em todas as fases do seu crescimento e desenvolvimento. Abrir a boca para respirar, desviando a passagem do ar da nasofaringe para a bucofaringe, causa muitos problemas inclusive os desvios de fala associados às alterações funcionais de mastigação, sucção e deglutição, cabendo ao fonoaudiólogo fazer parte dessa equipe de trabalho na tentativa de adequar ou minimizar a ação danosa destas adaptações musculares e esqueléticas.
Cabe ao fonoaudiólogo desenvolver conhecimentos sobre várias áreas que envolvam esta patologia, tais como causas, etiologias, consequências e efeitos. Além dos conhecimentos em relação à anatomofisiologia, principalmente da boca, face e pescoço.
Muitas vezes, a alteração do sono se encontra presente. O paciente respirador bucal, em geral, não dorme bem, tem sono leve e agitado e, algumas vezes, com episódios de apneia. Essas características do sono, nestes pacientes, deixam-lhes o estado de vigília comprometido, com vários episódios de sonolência durante o dia, levando-os a uma inaptidão para atividades físicas e de aprendizagem nas crianças e nos adultos uma certa indisposição para o trabalho e baixa produtividade. Quanto ao tratamento fonoaudiológico, ao adequarmos a musculatura de orofaringe, esses indivíduos passarão a ter menos despertares noturnos, menos ronco e, que durante o dia, conseguirão desenvolver seus afazeres normalmente”.
Essas características associadas ao mal-estar ou desconforto crônico de respirar pela boca, assim como baixa oxigenação funcional constante, levam a uma alteração de comportamento que compromete a autoestima e a sociabilização.
Uma criança com sete anos de idade, por exemplo, com essas características, que vive com outras crianças respiradoras nasais, é constantemente estimulada a participar de atividades como jogar e brincadeiras que requerem uma boa disposição física, atenção e concentração auditiva e visual. Sendo o seu desempenho abaixo do esperado pelo grupo, a tendência é que a criança se afaste, ou seja afastada, dessas atividades, preferindo, muitas vezes, o isolamento em atividades mais “sossegadas”. Isto acarreta seu afastamento gradual do grupo, levando à baixa estima e falta do vínculo social-afetivo.
Esse processo se repete nas atividades de aprendizagem, em que o comprometimento é visível. Uma criança que não dorme bem, não respira bem e tem baixa estima não poderá ter um bom desempenho escolar e, muitas vezes, é prejudicado com reprovações e exigências por parte dos pais ou dos professores, que desconhecendo a causa do problema o rotulam como preguiçoso ou desinteressado.
Nos pacientes adultos, essas observações são importantes porque provavelmente o seu desenvolvimento socioemocional e educacional tem uma história parecida com esta. Muitas vezes, o seu desempenho profissional e a sua vida pessoal têm traços e marcas da sua respiração bucal crônica.
É importante esclarecer ao leigo que: “O respirador bucal não vive com o olhar na lua”, é a sua posição de cabeça que o obriga a desviar o olhar da linha do horizonte. Que “o respirador bucal não tem aspecto de bobo”, é a sua característica miofuncional facial que proporciona esta fisionomia. Que “o respirador bucal não é preguiçoso”, mas dorme mal e, portanto, é sonolento e não pode gastar oxigênio em atividades físicas exageradas porque sua respiração é superficial.