O Poder do Silêncio
Estamos vivendo um período de grandes transformações. A cada ano que passa, mesmo parecendo cada vez mais rápidos, esses 12 meses vêm carregado de informações, mudanças, descobertas e expectativas.
No entanto, a maioria das pessoas se sentem como se estivessem presos à mesma rotina de sempre. Por que mesmo diante deste cenário mundial agitado e de tantos novos conhecimentos, os meses atuais parecem uma repetição dos anteriores e as tão esperadas mudanças raramente acontecem?
Somos bombardeados por lições de bons hábitos, de que devemos largar certos vícios, praticar mais atividade, mais lazer, relaxar e aproveitar mais a vida. Porém infelizmente, observamos essas belas teorias e conceitos com pouca adesão ou efetivas transformações em nossas vidas. Claro! Não é saber ou ter o conhecimento que transforma, é SER o conhecimento. E, para isso, é necessário preparar seu cérebro para uma importante mudança nas redes neurais.
Apagar antigos caminhos dos neurônios que determinam ações, reações e percepções “familiares” limitantes e criar novas redes que natural e automaticamente vão permitir uma nova manifestação, mais integrada, saudável e feliz. É “baixar” um novo sistema operacional no cérebro, novos filtros para perceber e responder ao meio, como algo intimamente conectado a você.
Até aqui está tudo muito bonito em teoria, mas na prática funciona da seguinte maneira: nosso cérebro tem a tendência de pegar as ações e sensações que se repetem e tornar isso um hábito automático para que haja economia de energia. Portanto, deixando nossa vida no automático, estaremos sempre repetindo os padrões familiares aprendidos. E este é um estado limitado, pois quem assume esta função são partes específicas do sistema límbico (emocional) que foram designadas para garantir sobrevivência e não felicidade! Pode observar que num dia repleto de fatos diferentes, o que mais te marcou foi aquele problema ou situação desagradável que aconteceu ou que você recordou, nem sequer pôs atenção ao sabor delicioso do alimento que ingeriu, do prazer da água quente que caiu do chuveiro para lavar seu corpo, da maciez e perfume do lençol em que se deitou para seu descanso... claro que não, isso pouco importa para sua sobrevivência!
Deixar a vida no automático garante no máximo sobrevida com toda dor e sofrimento implícitos neste conceito. Vida depende da felicidade que você produz internamente e está relacionado com o desenvolvimento de áreas cerebrais como o córtex cingulado anterior, córtex pré-frontal, entre outras.
Como acessar estas áreas e exercitar a felicidade, serenidade e paz interior? Poderia ficar escrevendo horas sobre isso mas posso resumir que a prática da presença (mindfullness) e a prática do silêncio mental (meditação) são os melhores exercícios para isso. Seus efeitos vão muito além da redução de estresse como normalmente nos referimos.
Além do estímulo extraordinário que essas práticas, especialmente o silêncio mental (ausência de pensamentos) têm sobre estas áreas corticais, elas têm potente efeito anti-inflamatório e promovem uma chuva de opioides como a oxitocina, mudando a bioquímica do líquor e proporcionando alegria, satisfação, confiança, bem-estar, independentemente do que se passa fora de você. E vale a pena lembrar que o que se passa fora é, na verdade, reflexo do estado interior e, portanto, essa mudança positiva de estado interior vai se refletir em uma vida material na mesma sintonia. São novas “lentes” para ver o mundo, cuja beleza é indescritível. Quem já vive este estado sabe que é impossível expressar em palavras, a sensação de liberdade e paz.
Essas informações são melhores compreendidas, hoje, graças aos avanços da neurociência dos últimos 20 anos em neuroimagem, que possibilitaram os estudos e aprendizados sobre o funcionamento do cérebro. No entanto, se observarem a famosa pintura de Michelangelo “Criação” que se encontra nas paredes da Capela Sistina, verão que ele já intuía muito bem sobre o que estamos aprendendo atualmente.
O globo celestial tem o exato formato de um cérebro humano e observamos que regiões importantes da pintura como o tórax de Deus, seu braço apontando Adão com seu olhar fixo, a disposição do seu corpo, o anjo chorando, são todos indícios de que ele tinha pleno conhecimento das áreas cerebrais relacionadas ao estado meditativo, atenção, concentração, tristeza e emoções.
Não quero sugerir essas interpretações como absolutamente verdadeiras, mas são, no mínimo, muito interessantes. E se observarmos que há um espaço entre os dedos de Deus e Adão, será que o caminho para maior consciência não está no espaço entre um pensamento e outro?
“Aprenda o silêncio. Com a serenidade quieta de uma mente meditativa, ouça, absorva, aplique e transforme” Pitágoras
“Quando um homem conhece a solidão do silêncio, e sente o prazer da quietude, então ele é livre” Buddha