Ecoendoscopia: uma importante aliada no manejo de lesões pancreáticas
As particularidades anatômicas do pâncreas, como sua localização e relação com outros órgaos vizinhos, tornam sua avaliação bastante difícil, de modo que frequentemente o diagnóstico preciso só é definido após a realização de procedimento cirúrgico.
O Câncer de pâncreas corresponde a 2% dos tipos de câncer no Brasil e possui uma alta mortalidade, sendo responsável por 4% das mortes por câncer, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (INCA). É uma doença de difícil detecção precoce, fazendo parte do conjunto de neoplasias silenciosas, cuja manifestação clínica se dá em fases avançadas da doença. Consiste, portanto, em um desafio diagnóstico e terapêutico. Neste cenário, a ecoendoscopia se estabeleceu como importante ferramenta para diagnóstico e auxílio terapêutico das variadas lesões que afetam tanto o pâncreas, quanto outros órgãos do sistema digestório.
A ecoendoscopia representa um grande avanço tecnológico. Sua primeira utilização ocorreu, na década de 80, com a ideia de acoplar um transdutor de ultrassom à extremidade de um endoscópio, permitindo a obtenção de imagens ultrassonográficas dentro do trato digestório, proporcionando a avaliação, tanto da parede do esôfago, estômago, duodeno e reto, bem como de órgãos e estruturas vizinhas, como o mediastino, o baço, a vesícula biliar, estruturas vasculares, fígado, colédoco e o pâncreas. Após todos estes anos, permanece em pleno desenvolvimento, com constante surgimento de novos equipamentos, cada vez mais precisos, e a elaboração de novas técnicas. No Brasil, ainda é pouco conhecida, sendo encontrada quase que exclusivamente em grandes centros médicos.
As particularidades anatômicas do pâncreas, como sua localização e relação com outros órgaos vizinhos, tornam sua avaliação bastante difícil, de modo que, frequentemente, o diagnóstico preciso só é definido após a realização de procedimento cirúrgico. Embora seja reconhecida a importância de outros exames para o diagnóstico das afecções pancreáticas, como a tomografia computadorizada e a ressonância magnética, sendo estes os principais métodos utilizados para o rastreio do adenocarcinoma pancreático (com importante papel na identificação de metástases à distância), a utilização da ecoendoscopia, nesses casos pode trazer informação adicional, por exemplo, constatar a invasão de vasos e linfonodos, além de poder proporcionar a obtenção de amostras teciduais através de punção aspirativa com agulha fina (PAAF) para confirmação anatomopatológica.
Além da contribuição para o diagnóstico, a ecoendoscopia também auxilia na terapêutica. Utilizando-se da punção ecoguiada, pode-se injetar substâncias e medicamentos, como, por exemplo, para realizar a alcoolização de cistos e para a neurólise do plexo celíaco, objetivando o tratamento de dor crônica. É, também, possível a realização de procedimentos mais complexos, como a drenagem de coleções e o acesso à via biliar, principalmente nos casos em que a Colangiopancreatigrafia Retrógrada Endoscópica (CPRE) não obteve sucesso, sendo capaz de realizar derivações wirsungogástricas, coledocoduodenais e hepaticogástricas, apresentando-se como alternativa às drenagens transparietais, com a vantagem de não haver cateteres externos e melhorar a qualidade de vida dos pacientes com doenças avançadas.