Dra... eu vou ser grande?
Essa é uma pergunta muito frequente no dia a dia do endocrinologista pediátrico, cada dia mais as crianças se incomodam de serem as mais baixinhas da turma.
A avaliação do paciente com baixa estatura exige muito cuidado pois vários são os fatores que influenciam no crescimento. Eles começam na vida intrauterina, pois pacientes que sofrem restrição do crescimento nessa fase da vida tem 20% de chance de não recuperar estatura, e essa recuperação deve ocorrer até no máximo 4 anos de idade.
Outro fator muito importante é a estatura materna e paterna, pois 80% do nosso alvo estatural é dado pela carga genética. Porém não necessariamente pais que são baixos terão seus filhos baixos também, muitas vezes o tratamento que não foi possível para os mais velhos, pode ser plausível para seus pequenos.
Além disso faz parte do acompanhamento avaliar condições nutricionais, excluir doenças crônicas, sendo essas as principais causas de baixa estatura. Não deixar de pensar em algumas síndromes, como a de Turner por exemplo, que muitas vezes a única manifestação pode ser uma curva abaixo de menos dois desvios padrões no gráfico. E sempre pesquisar os hormônios envolvidos no crescimento linear, entre eles o hormônio do crescimento, hormônio tireoidiano e hormônios sexuais.
Toda essa investigação não é feita em apenas uma consulta, e na maioria das vezes exige um tempo de alguns meses para avaliar a velocidade de crescimento, realizar todos os exames e conseguir montar a curva de estatura.
Como já dito acima, apenas uma pequena porcentagem dos pacientes com baixa estatura tem deficiência de hormônio de crescimento, na maior parte das vezes estamos lidando com crianças que apenas demoram um pouco mais para se desenvolver, ou que possuem outras doenças que acabam influenciando no prejuízo da estatura final. Existe também a possibilidade de procurarmos várias causas e não ser possível realizar um diagnóstico etiológico, a esses pacientes fazemos o diagnóstico de baixa estatura idiopática.
Independente da causa o tratamento é o mesmo, realizado com o hormônio de crescimento (Somatotropina Recombinante Humana), e que possui indicações bem descritas na literatura e quando bem indicado pode ser considerado um tratamento seguro e na grande maioria das vezes eficaz. Sabe-se que um dos preditores de melhor resposta dessa medicação é o início precoce, pois quanto mais perto da estatura final, menor será a ação da medicação.
Portanto, devemos sempre acompanhar nossas crianças e todas aquelas que estiverem abaixo do percentil 5 no gráfico de crescimento, ou abaixo de 1,5 desvios padrões do alvo genético, ou até mesmo aquelas que se sentirem incomodadas devem ser avaliadas por um especialista e merecem ser acompanhadas com atenção e muito carinho.