A Saúde cardiovascular feminina deve ser priorizada
A doença aterosclerótica do coração que, até décadas atrás , atingia de forma inexorável predominantemente o sexo masculino, passou a acometer na mesma proporção o sexo feminino. As mudanças de paradigma cultural, no que tange a hábitos de vida como também hábitos alimentares, tornaram o sexo feminino extremamente fragilizado e suscetível a maiores taxas de complicações cardiovasculares, como infarto do miocárdio e acidente vascular cerebral.
Sabe-se, do ponto de vista fisiológico, que as estruturas cardiovasculares de uma mulher, como o coração e suas artérias/veias, são, em geral, de menor porte anatômico e apresentam menor resistência a fatores como sobrecarga e hipertensão arterial. A quantidade e sobretudo a qualidade da atividade física podem, gradativamente, equiparar o coração feminino a um padrão de coração masculino. Equiparar implica em um processo adaptativo e de condicionamento, no qual as fibras musculares do coração feminino adquirem comprimento e espessura cada vez maiores, permitindo suportar maior carga e adquirindo resistência adicional.
Hábitos modernos são adotados comumente visando seguir a moda do momento e cultivar prazeres. No entanto, nem sempre estes hábitos representam a manutenção de uma saúde cardiovascular condizente com a longevidade saudável. O tabagismo por si só é responsável pela gênese de uma imensidão de doenças letais ao ser humano e, lamentavelmente, as mulheres têm se destacado na prática deste hábito. O desfecho disto tem sido altas taxas de mortalidade cardiovascular em mulheres cada vez mais jovens, na faixa etária entre 30 - 50 anos.
Não bastasse o hábito desenfreado de fumar, as mulheres têm consumido, muitas vezes mais que os homens, bebidas alcoólicas e drogas ilícitas. Os ambientes noturnos de festas e baladas usualmente são regados por estes produtos e as mulheres já não se privam ou demonstram qualquer tipo de constrangimento ou pudor em relação a isto. Casos de morte súbita em mulheres, motivados pela "overdose" de bebidas alcoólicas com drogas ilícitas, estão cada vez mais estampados em noticiários, inclusive casos de mulheres com atuação profissional sólida, como empresárias, médicas, advogadas e arquitetas. As mulheres, ao longo de sua vida, vivenciam diversas variações hormonais, destacadamente menstruação, gravidez e menopausa. Os hormônios femininos desempenham função protetora no coração e, desta forma, eminentemente na menopausa, quando ocorre decréscimo natural destes hormônios, instala-se período de risco cardiovascular aumentado.
Na fase de menopausa, em virtude deste risco cardiovascular elevado, muitas mulheres necessitam de uma terapia de reposição hormonal, de acordo com orientação de seu ginecologista.
Para prevenir eventos cardiovasculares em mulheres de diferentes faixas etárias, recomenda-se visita semestral ao cardiologista a partir dos 40 anos. Além disso, nesta consulta cardiológica, seria mandatório que as mulheres informassem se estão utilizando anticoncepcionais, os quais não são isentos de risco cardiovascular e, como tais, deveriam ser utilizados em situações recomendadas pelos médicos.
A mulher moderna desempenha inúmeras funções de natureza produtiva em quase todos os setores da economia e sociedade. Sendo assim, a saúde cardiovascular de uma mulher precisa de atenção especial primeiramente por parte da própria mulher e também por parte de seu cardiologista, que tem a missão de prover orientação adequada acerca das particularidades que o sexo feminino encerra no tocante ao funcionamento saudável e longevo de seu coração.
O coração feminino não pode sofrer preconceito; ao contrário , precisa e deve ser compreendido sob a visão biológica de um órgão com suas funcionalidades. Julgar que o coração feminino é apenas símbolo de sentimentos pode impedir uma mulher de desfrutar de longevidade saudável, perpassando pelas diversas fases orgânicas de sua vida.