É preciso Envelhecer com Saúde Mental
Os aspectos fisiológicos do envelhecimento trazem mudanças com grande impacto psicológico e cognitivo. O sistema nervoso é alvo de modificações importantes, por exemplo, a diminuição do fluxo sanguíneo cerebral.
Mudanças próprias da idade trazem consigo sinais que por si sós podem gerar estranhamento e desconforto. Uma vez que estas emoções não desapareçam naturalmente, o organismo tem que fazer um novo ajuste à vida, e a tarefa do médico é auxiliar nesse processo. O médico psicogeriatra é o psiquiatra que cuida dos aspectos psíquicos e cognitivos do envelhecimento.
Além de se adaptar a mudanças, é preciso reconhecer quando estas trazem sofrimento excessivo, podendo evoluir com manifestações de quadros psiquiátricos como depressão, somatização e sintomas ansiosos. Guardadas as diferenças socioculturais e os distintos níveis de desenvolvimento de cada região, a prevalência global de depressão em idosos é de 12,3 % (EURODEP). Alguns fatores psicossociais desempenham um papel na gênese dos transtornos depressivos como a presença de doenças físicas, eventos de vida traumáticos, ou negativos. O luto pela perda do cônjuge, pode impor dificuldades persistentes para alguns indivíduos. A estimativa de risco para desenvolver depressão após a morte do cônjuge foi de 24,3 % no primeiro ano, por exemplo.
A diminuição da independência para atividades de vida, com incapacidades e limitações novas, temporárias ou permanentes, aumentam também o risco para novos episódios depressivos.
Doenças degenerativas como a doença de Alzheimer e Parkinson também apresentam taxas de depressão elevadas, como comorbidade, além das alterações de cognição, comportamento e humor, próprias destas condições.
Mesmo em idosos saudáveis, a manutenção das habilidades cognitivas pode variar. Alguns indivíduos mantêm alto funcionamento mental até os 90 anos, enquanto outros apresentam declínio gradual, principalmente em ações que demandam atenção e flexibilidade mental. Nesta situação, ajustar-se à perda de um nível de funcionamento anterior, pode tornar-se um desafio. Desafiador também é encontrar o limite a partir do qual estes declínios se tornam patológicos. Por meio de um rastreamento detalhado, com exames laboratoriais, métodos gráficos e de imagem, conseguimos afastar uma série de condições que poderiam ser responsáveis por alterações tanto cognitivas, quanto de comportamento, ou de humor. Mas, a principal ferramenta do psiquiatra é o conhecimento profundo da psicopatologia dos transtornos mentais; que lhe dá condições de firmar diagnósticos complexos, ou afastá-los. Temos o auxílio dos exames e de testes neuropsicológicos complementares que avaliam atenção, memória, linguagem, funções executivas, habilidades visuoespaciais, visuoconstrutivas e visuoperceptivas, contudo o diagnóstico de Doença de Alzheimer, por exemplo, ainda é clínico. Estudos com base genética para diagnóstico precoce estão em andamento.
Indispensável, nesta fase da vida, na presença de doenças diagnosticadas ou não, é manter o relacionamento aceso do idoso com os que o cercam, com o que é de seu interesse, com o mundo. Explorar as emoções, ainda que estas sejam desagradáveis, como no caso de sentimentos de solidão, ou incapacidade, é a maneira de compreender algumas das vivências próprias do envelhecer. Se algo não vai bem neste processo, precisa ser detectado e corrigido.