É possível (e não perigoso) criar uma criança vegana?
Você se preocupa com a qualidade da sua alimentação? E com a do seu filho?
A busca por um melhor estilo de vida vem crescendo nos últimos anos e o interesse por práticas nutricionais mais saudáveis acompanham esta tendência. O veganismo é uma opção de vida que se baseia nesta filosofia. Segundo o site da Sociedade Vegetariana Brasileira (em www.svb.org.br), “A filosofia do veganismo (não consumo de qualquer produto que gere exploração e/ou sofrimento animal) adota o vegetarianismo estrito no âmbito da alimentação. Por isso, costuma-se também chamar de “vegano” aquele que não consome nenhum alimento de origem animal (carnes, ovos, laticínios, etc.)”.
Sendo o veganismo mais um conceito de filosofia do que alimentar, não é incomum vermos famílias inteiras adotantes desta prática. Aí, surge a pergunta: Será que a dieta vegana é suficiente para o crescimento adequado de uma criança?
Para compreender esta questão, precisamos responder a duas outras perguntas:
1. Quais nutrientes estão presentes nos alimentos de origem animal e que faltam nos vegetais?
2. Qual é o impacto da carência desses nutrientes no crescimento e desenvolvimento?
Muito bem. Vamos por partes.
O conceito da importância do desenvolvimento nos primeiros 1.000 dias (período que equivale à vida intra-uterina mais os dois primeiros anos de vida) nos alerta para a importância de uma boa nutrição nesta etapa, e da magnitude dos riscos que carências nutricionais nesta idade conferem para a saúde da vida inteira.
Sofia Garcia Whiteman Barranha, médica pediatra e pesquisadora da Universidade do Porto (Portugal), pesquisou sobre o impacto da alimentação vegetariana na criança.
Sua dissertação mostrou alguns pontos interessantes.
Primeiro, vamos falar do ferro, que é um micronutriente que exerce diversas funções metabólicas. A principal fonte alimentar de ferro é a carne vermelha, que tem cerca de 3mg de ferro por 100g de porção. O espinafre, por exemplo, tem a mesma quantidade, porém a absorção do ferro de origem vegetal (a chamada biodisponibilidade) é muito mais baixa, o que significa que devemos ingerir uma quantidade muito maior de vegetal do que de carne para que a mesma quantidade de ferro seja absorvida.
Outro nutriente importante é a vitamina B12, encontrada quase que exclusivamente em fontes animais, e importante para o desenvolvimento neurológico na infância. Este nutriente é produzido pelas bactérias que vivem no estômago dos ruminantes e transferida para a carne, a qual consumimos. Vegetais praticamente não contêm vitamina B12.
A soja é um alimento muito usado como fonte proteica nas dietas vegetarianas, exercendo muito bem esse papel. Entretanto, os fitatos da soja dificultam a absorção de metais como zinco, ferro e magnésio. O zinco é um nutriente cuja fonte principal também é a carne, embora leguminosas e alguns cereais funcionem como fonte deste nutriente. O magnésico, assim como o cálcio, tem como principal fonte o leite e seus derivados. Bebidas leitosas preparadas com fontes vegetais como amêndoa por exemplo, não têm a mesma quantidade desses elementos.
Os ácidos graxos da série ômega-3, nutrientes de extrema importância para a formação do cérebro e desenvolvimento da imunidade, são provenientes de peixes e também de algas unicelulares muito específicas, não disponíveis para consumo.
Todos esses nutrientes são fundamentais para os primeiros anos de vida. Alguns deles, como zinco, cálcio e proteínas, podem ser consumidos em quantidade adequada através de fontes vegetais. Entretanto, é muito difícil atingir o consumo adequado de outros como ferro, ômega-3, vitamina B12 e vitamina D, e tais carências podem representar um risco potencial para o desenvolvimento. Portanto, crianças que são criadas com dieta vegetariana estrita necessitam necessariamente de ser suplementadas com esses nutrientes. Além disso, é interessante efetuar dosagens sanguíneas dessas substâncias pelo menos semestralmente.