(Dr. Elton Alonso Pompeu, Médico Psiquiatra, CRM/SP 135.307, RQE 61961, responsável pelo canal @focanapsiquiatria –YouTube e Instagram).
Os “bebês reborn”, que são bonecos ultrarrealistas produzidas de forma semi-artesanal e que, por vezes, são confundidos com bebês reais ou usados como “filhos”, tem causado grandes discussões em nossa sociedade. Como é típico dos nossos tempos, as opiniões emitidas sobre as “mães” de bebês reborn via de regra vem completamente carregadas de julgamentos baseados um pré-conceito de que o uso dos tais bebês reborn como simuladores de parentalidade nada mais seria do que uma “brincadeira de adulto”. Nós profissionais da saúde temos, por nosso ofício, uma tarefa mais difícil do que a de meramente julgar. Nós devemos tentar entender o fenômeno e por isso não podemos deixar de considerar a possibilidade dessa simulação de parentalidade envolver estados de adoecimento ou imenso sofrimento mental, desde transtornos delirantes ou psicóticos, como mecanismos de defesa do ego mais sutis e inconscientes, como os que abordo aqui.
No que chamamos de “formação reativa”, alguém que reprime a tristeza profunda de não poder ter filhos desenvolve um apego exagerado ao boneco para compensar e mascarar esse sofrimento. Pode haver também um processo de regressão: um retorno a um estágio anterior do desenvolvimento emocional mais seguro ou prazeiroso, como poderia ocorrer após a morte dos pais ou a saída dos filhos de casa, no qual voltar-se ao papel de mãe significaria o retorno a uma época da vida na qual a pessoa encontrava sentido existencial. E, por fim, a pessoa envolvida pode estar um processo de sublimação, que é uma defesa do ego menos patológica, na qual um impulso mental inaceitável é transformado em algo socialmente aceito, como por exemplo no uso do cuidado de um bebê reborn como expressão terapêutica ou artística para lidar com um luto ou um desejo de parentalidade.
A pessoa que leva no colo esse bebê reborn pode ter como pano de fundo cenários de enorme sofrimento mental, sendo então digna de cuidados em saúde mental.
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